A morte do recém-nascido Ragner Ramos Leitemperger, ocorrida no Hospital Municipal Ruth Cardoso na sexta-feira (25), repercutiu intensamente na sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú nesta terça-feira (29). Diversos parlamentares ocuparam a tribuna para manifestar pesar, cobrar apuração dos fatos e comentar os desdobramentos administrativos da tragédia.
▍Achutti relembra denúncias, critica ex-diretora e menciona relação com morte de bebê

O vereador Marcelo Achutti (MDB) iniciou sua fala relembrando que, desde março, tem alertado sobre graves problemas na gestão do Hospital Ruth Cardoso. Ele mencionou a matéria do jornal Página 3, publicada em 6 de março de 2025, que denunciava supostos casos de negligência médica, manipulação de indicadores, falta de equipamentos e até médicos supostamente trabalhando embriagados. Segundo o parlamentar, a própria diretora do hospital na época, Andressa Hadad, confirmou a veracidade de parte das denúncias em áudio enviado ao jornal, antes de recuar e negar as acusações.
Diante disso, a Câmara aprovou em 12 de março a convocação de Hadad para que ela prestasse esclarecimentos, mas, conforme frisou Achutti, ela jamais compareceu à Casa Legislativa. “Até o dia de ontem, quando ela foi exonerada, ela não veio até a casa do povo para dar explicações”, afirmou.
O vereador lembrou que, no dia 9 de abril, levou um bolo à tribuna como protesto simbólico por um mês de silêncio institucional. “Fomos criticados por algumas pessoas que compreenderam que nós estávamos fazendo uma oposição burra. Mas eu digo para vossas excelências que eu não me arrependo nem um minuto”, disse.
Para Achutti, a falta de resposta às denúncias e o não comparecimento da diretora culminaram na tragédia ocorrida no dia 25 de abril. “Passando esse um mês, no dia 25, na madrugada, acabamos tendo o óbito de um bebê no hospital Ruth Cardoso”, lamentou.
Ele também reagiu a críticas feitas nas redes sociais por Olodum, esposo da diretora exonerada, que acusou a permanência de médicos negligentes na unidade. Achutti respondeu apontando que foi a própria Andressa Hadad quem homologou o contrato com a empresa médica hoje responsável pelo setor obstétrico, em 2020, quando exercia o cargo de secretária de Saúde. “Ele só esqueceu que quem é fiscal do contrato é a Andressa”, disse.
Achutti concluiu elogiando a presença da prefeita no hospital no momento da crise, bem como o afastamento do médico e a abertura de sindicância, mas fez uma cobrança direta ao Executivo sobre o cumprimento do prazo prometido para divulgação dos resultados. “A prefeitura fez uma nota dizendo que em 72 horas ia apresentar uma sindicância para que a população pudesse saber.” Ele encerrou sua fala dizendo: “Casa dividida não prospera. Nós precisamos dar um choque de gestão. Precisamos sim entrar com corpo e alma naquela casa porque é uma casa de saúde 24 horas que salva vidas.”
▍Mazinho repudia abandono no parto e cobra comando no governo

O vereador Mazinho Miranda (PRD) iniciou sua fala dizendo sentir “imensa tristeza” ao comentar o caso da morte do bebê Ragner, classificando a situação registrada em vídeo como “abandono vivido por uma mãe em trabalho de parto no Hospital Ruth Cardoso”. Segundo ele, a cena, divulgada nas redes sociais e na imprensa, retratava a “justa indignação demonstrada pelo pai ao ver sua esposa e o seu filho naquela situação sem qualquer médico acompanhando”.
Mazinho classificou o episódio como um símbolo da “desumanização do parto” e disse que ele “vai contra todas as orientações das autoridades de saúde no mundo”. O vereador criticou o que chamou de oportunismo político em tragédias anteriores, como o caso das mortes ocorridas em agosto de 2024, quando grupos se manifestaram em frente ao hospital. “Bateram panela em agosto, pegaram duas mortes para fazer uma politicagem baixa. E hoje essas pessoas estão tendo a oportunidade de mudar essa realidade”, afirmou, referindo-se a integrantes do atual governo.
O parlamentar disse que, após o episódio, acionou o Ministério Público solicitando que acompanhasse o caso junto à Câmara. Também fez um apelo direto à prefeita: “Que ela bata na mesa, que ela não deixe essa cena se repetir”. Mazinho afirmou que a cidade precisa de comando: “Alô governo municipal, vamos sair da rede social, vamos sair do Instagram, do TikTok. A cidade precisa de comando, precisa de controle.”
Ele finalizou sua fala dizendo que a campanha eleitoral terminou e que é hora de governar com foco na população: “Vamos deixar de lado as questões políticas, vamos descer do palanque e vamos acompanhar o Ruth Cardoso de perto.”
▍Bola relembra criação do hospital, lamenta tragédia e responsabiliza ex-diretora

O vereador Aldemar “Bola” (PSD) afirmou, em seu discurso, que a tragédia deixou toda a cidade abalada e destacou o sofrimento da prefeita Juliana Pavan, dizendo que ela estava “tremendamente abalada” com o caso. “Ninguém quer uma situação dessa”, disse.
Bola relembrou seu envolvimento na história da saúde pública de Balneário Camboriú, contando que foi responsável, em 2006, por trazer o projeto do Hospital Ruth Cardoso à cidade. Segundo ele, o plano inicial era manter a maternidade no Hospital Santa Inês e instalar o pronto-socorro em outra estrutura, mas o modelo adotado concentrou tudo no Ruth, sobrecarregando o sistema.
“Infelizmente a decisão foi de romper o convênio com o SUS com o Santa Inês e fazer o pronto socorro dentro do Ruth Cardoso”, comentou, destacando que a unidade tem limitações por ser hospital de baixa e média complexidade.
Bola também resgatou as visitas realizadas pela Comissão de Saúde da Câmara ao hospital após denúncias do jornal Página 3 e criticou o fato de a diretora Andressa Hadad não ter comparecido à convocação feita pela Câmara. “Alguma coisa não estava certa lá”, disse.
Ele afirmou que a maternidade do hospital era visualmente bem estruturada, mas considerou inadmissível que um obstetra estivesse ausente durante uma situação crítica como a registrada no vídeo. “Devidamente foi afastado para apurações”, comentou.
Sobre a ex-diretora, disse não ter nada pessoal contra ela, mas lembrou que, enquanto secretária de Saúde em 2020, Andressa Hadad homologou o processo da empresa terceirizada responsável pelos médicos. Ele também afirmou que a própria ex-diretora disse à imprensa que havia corrupção na gestão.
Bola encerrou sua fala prestando solidariedade aos profissionais que trabalham com dedicação no hospital e aos familiares da criança falecida. “Infelizmente a tragédia aconteceu segundo se constata por alto por um ato relapso.”
▍Anderson destaca ações da prefeita e defende terceirização da saúde

O vereador Anderson Santos (PL) iniciou sua fala prestando solidariedade à família do bebê Ragner e reconhecendo que nenhuma palavra seria capaz de amenizar a dor da perda. Em seguida, destacou a postura da prefeita Juliana Pavan após a tragédia, afirmando que ela “saiu da sua casa ou do seu gabinete” e foi pessoalmente ao hospital prestar apoio à família e tomar providências.
Anderson elogiou a prefeita por ter autorizado a entrega de todas as informações solicitadas pela família, incluindo prontuário médico, e por ter colocado os servidores do hospital à disposição para prestar depoimentos. Ele leu trechos das medidas adotadas: acolhimento psicológico, afastamento do médico obstetra, abertura de sindicância, acionamento da comissão de óbito e investigação do comitê de ética.
“A prefeita fez mais que a obrigação, é verdade, mas teve pulso firme para tomar atitude”, afirmou. Anderson disse que, embora o governo esteja em início de mandato, teve a coragem de exonerar uma diretora, o que considerou uma atitude difícil, mas necessária.
O parlamentar aproveitou para defender a terceirização dos serviços hospitalares, citando a UPA das Nações como exemplo positivo de gestão terceirizada, onde seu filho foi recentemente atendido com qualidade. “Se o funcionário não trabalhar bem, vai para a rua”, declarou. Para ele, a terceirização garante maior eficiência e qualidade no atendimento.
Anderson concluiu dizendo que a prefeita demonstrou sensibilidade e responsabilidade ao lidar com o episódio e reiterou que atitudes como a exoneração da diretora são importantes para mudar a realidade da saúde municipal.
▍Teco cobra apuração, lembra casos anteriores e reforça apoio à prefeita

O vereador Alessandro Teco também se manifestou sobre o episódio, relembrando que foi um dos primeiros a tomar conhecimento do caso ainda na madrugada de sexta-feira. Ele citou o nome dos pais da criança, Daila e Edemar, e lamentou que esse tipo de situação tenha se repetido. “Não é a primeira vez que acontece isso”, disse.
Teco reforçou que a morte do bebê exige apuração rigorosa e responsabilização de eventuais culpados. Ele relembrou que em 2024 também houve mortes de bebês na maternidade do hospital e que, na ocasião, sindicâncias foram abertas, mas não soube dizer se houve qualquer responsabilização. “Entraram com sindicância, afastaram o médico, e o que deu? Não aconteceu nada, pelo menos eu não fiquei sabendo.”
O vereador fez elogios à postura da prefeita Juliana Pavan após o novo caso, destacando que ela esteve pessoalmente no hospital e adotou providências imediatas, como o afastamento do médico, abertura de sindicância e coleta de depoimentos. “A prefeita Juliana, pela informação que eu tive, foi a única prefeita até hoje, depois de um acontecimento desse, que esteve no Ruth Cardoso”, comentou.
Teco afirmou que a prefeita deve promover mudanças mais profundas na estrutura do hospital e que há medidas adicionais sendo planejadas para reorganizar a equipe. Ele ainda defendeu os profissionais que atuam no hospital, afirmando que muitos são comprometidos e sobrecarregados. “As pessoas que estão lá têm que ser valorizadas”, disse.
O vereador concluiu reforçando que o caso não pode ficar impune: “Que seja punido quem deixou acontecer isso.”
▍Ricardinho propõe projeto de lei e defende autonomia da gestante

O vereador Ricardinho (PRD), visivelmente emocionado, iniciou sua fala afirmando que o Hospital Ruth Cardoso voltou a ocupar as manchetes por uma nova tragédia. “Infelizmente, o Ruth Cardoso, de novo, nas redes sociais”, disse. Com a voz embargada, o parlamentar relatou sua ligação pessoal com a unidade, onde atuou por anos, e onde também nasceram seus filhos. “Eu sei as dificuldades que nós passamos lá dentro, e eu sei que ninguém sai de casa para acontecer um fato daquele”, afirmou.
Ricardinho fez questão de defender os profissionais que atuam no hospital, ressaltando o comprometimento de muitos servidores. “Tem muitas pessoas boas e trabalhadoras lá dentro”, disse.
Diante da tragédia, o vereador apresentou um projeto de lei que dispõe sobre o direito da gestante, a partir da 37ª semana, optar por parto cesariana caso deseje, desde que devidamente orientada por seu médico no pré-natal. O objetivo do projeto, segundo ele, é assegurar à mulher autonomia na escolha da via de parto e evitar episódios de violência obstétrica.
“Esse projeto respeita a valorização e o diálogo entre o paciente e o profissional de saúde. O que propomos é simples: é dar à gestante o direito de decidir de forma consciente e responsável”, explicou. Ele frisou que a proposta não impõe, mas permite a escolha informada, sem desconsiderar a conduta médica. “Ela não obriga, ela permite. Ela não ignora o ato médico. Ela é um diálogo entre o médico e a paciente.”
O parlamentar afirmou ser favorável ao parto normal, mas defendeu que o respeito à história da mulher e aos seus medos precisa ser garantido em lei. “Sou a favor do parto normal, sim, mas também acredito que a decisão deve ser construída com base na confiança e nas informações corretas.”
Ricardinho encerrou pedindo o apoio dos demais vereadores à proposta e reafirmando sua solidariedade à família enlutada: “Nada que fizermos agora trará a criança de volta, mas precisamos impedir que novas tragédias aconteçam.”
▍Ciça Müller presta solidariedade à família e defende punições aos responsáveis

A vereadora Ciça Müller (PDT) também utilizou a tribuna para lamentar o episódio ocorrido no Hospital Ruth Cardoso. Em tom comovido, destacou que acompanhou o caso com profundo pesar e preocupação. “Venho aqui com o coração partido”, afirmou.
Ela relatou que esteve no hospital no sábado, por volta do meio-dia, junto ao vice-prefeito Nilson Probst, com quem conversou sobre as providências adotadas até aquele momento e sobre o acolhimento à família da criança falecida. A vereadora afirmou que preferiu não se aproximar da mãe naquele momento por respeito à dor que ela estava vivendo. “Pensei que esse momento é tão doloroso, mais uma pessoa para estar ali dizendo coisas que talvez naquele minuto não fizessem sentido pra família”, justificou.
Ciça prestou solidariedade à mãe do bebê, dirigindo-se diretamente a ela: “Daila, mãezinha querida, que Deus te abençoe, que você tenha força para viver esse momento e superá-lo.” Ela afirmou que é preciso extrair lições desse episódio trágico para que nunca mais se repita na cidade.
A parlamentar enfatizou que, apesar do sofrimento da família, a responsabilização dos envolvidos é imprescindível. “Obviamente que isso não tira a responsabilidade e que os responsáveis certamente deverão ser punidos”, declarou, destacando a importância da atuação do Conselho Regional de Medicina (CRM) e das instâncias legais.
Ela finalizou expressando sua confiança de que a investigação seguirá seu curso para garantir justiça e também homenageou os demais envolvidos em ações culturais da cidade, reforçando o papel de políticas públicas que preservem vidas e memórias.
▍Guilherme Cardoso defende fiscalização contínua e cobra transparência nos contratos

O vereador Guilherme Cardoso (PL) iniciou sua fala reforçando o tom de luto e respeito diante da tragédia que vitimou o recém-nascido. “Hoje realmente é uma sessão onde sorrisos e risadas não combinam com um assunto tão sério”, afirmou.
Cardoso destacou a função do vereador como fiscalizador, ressaltando que, em momentos como esse, não se trata de defender ou atacar o Executivo, mas de assumir responsabilidades. “Se algo acontece ou deixa de acontecer na cidade, não é momento de apontar dedo, é momento para cada vereador fazer sua parte.”
O parlamentar elogiou a postura dos colegas na condução do debate, afirmando que nenhum deles agiu com oportunismo político: “Ninguém bateu panela, ninguém fez vídeo para lacrar em cima de tragédia.”
Cardoso também relatou que, junto ao vereador Mazinho, protocolou uma representação no Ministério Público para que o órgão acompanhe as investigações do caso. Além disso, anunciou que solicitou uma auditoria nos contratos em vigor no Hospital Ruth Cardoso. “Não é justo a gente tratar essa família com política, e o cidadão precisa de apenas uma coisa: ser bem atendido no hospital da cidade.”
Em crítica à estrutura administrativa da unidade, o vereador afirmou que a complexidade contratual do hospital é tamanha que nem mesmo um bom advogado daria conta de interpretá-la. Para ele, essa confusão compromete a transparência e dificulta a responsabilização dos verdadeiros culpados.
Ao final, Cardoso parabenizou os vereadores pelo comportamento empático e reforçou que o caso precisa resultar em mudanças estruturais, e não apenas em manifestações de pesar. “Nada nos tira a responsabilidade daqui em diante: cobrar mais gestão, mais organização, processos mais claros. Para que a gente não tenha que prestar condolências a mais uma família.”
▍Jair cobra apoio à família e denuncia falta de acolhimento

O vereador Jair Bolsonaro também utilizou a tribuna para expressar sua indignação diante da tragédia envolvendo a morte do bebê Ragner. Em uma fala breve, mas contundente, Jair questionou as afirmações de que houve acolhimento adequado à família.
“É mentira que a prefeita deu amparo”, disse o vereador, atribuindo a declaração ao próprio pai da criança. Jair relatou que, segundo o pai, apenas o local do sepultamento teria sido cedido pelo município. O caixão, afirmou, teria sido providenciado por terceiros, e nem mesmo uma coroa de flores foi entregue. “O nome do bebê foi escrito à mão pelo próprio pai”, destacou.
Ele também questionou o papel da Procuradoria da Mulher da Câmara e cobrou apoio psicológico e institucional para a mãe da criança. “Estamos falando de uma mãe que não vai mais poder ter filhos, que perdeu o útero. Vamos ajudar o próximo, sem politicagem”, disse.
Jair encerrou pedindo que o Legislativo cumpra sua função de garantir suporte à família enlutada e cobre ações concretas do Executivo para que casos como esse não voltem a ocorrer.