A prefeita de Balneário Camboriú, Juliana Pavan, compartilhou recentemente uma reportagem publicada em um site recém criado, intitulada “Balneário Camboriú Declara Guerra à Dengue: Gestão Juliana Pavan Lidera Ações Inéditas e Efetivas no Combate ao Mosquito Aedes aegypti”. O texto tenta colar à prefeita a imagem de protagonista no combate à dengue no município. A peça, no entanto, ignora a realidade estatística e o contexto epidemiológico mais amplo de Santa Catarina.
De acordo com o Informe Epidemiológico nº 10/2025 da Secretaria de Estado da Saúde, os casos confirmados de dengue em Santa Catarina caíram 94,84% em 2025, na comparação com o mesmo período de 2024. Em Balneário Camboriú, a redução foi de 94,73% — praticamente idêntica à média estadual. Cidades vizinhas, como Itajaí, apresentaram resultados ainda melhores: redução de 95,86%. Na macrorregião da Foz do Rio Itajaí, a queda foi de 96,16%. E no ranking estadual, outras regiões superaram Balneário Camboriú, como o Vale do Itajaí (99,14%) e o Norte/Nordeste (98,53%).

Diante desses números, não há base técnica para afirmar que as ações da prefeitura foram decisivas ou que Balneário Camboriú se destacou na contenção da dengue. Trata-se de uma queda generalizada em todo o estado, provavelmente influenciada por múltiplos fatores, como ciclos naturais de transmissão, condições climáticas, mudanças no comportamento do vetor e esforço coletivo dos municípios.
A prefeita, no entanto, parece interessada em transformar uma tendência estadual em narrativa pessoal. É evidente que toda ação de combate ao mosquito é válida. Mas atribuir a uma gestão municipal um feito que se repetiu em praticamente todas as regiões de Santa Catarina — e muitas em grau superior — não é só exagerado: é enganoso.
Num momento em que a saúde pública exige responsabilidade e comunicação baseada em dados concretos, é importante que gestões municipais evitem associar resultados amplos e coletivos a estratégias locais específicas, especialmente quando os dados não confirmam esse protagonismo. Reconhecimento é legítimo quando há mérito demonstrável — e não quando se apoia em manchetes que não refletem a totalidade dos fatos.