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Moção de repúdio contra Afonso Padilha é rejeitada após vereadores deixarem plenário

Com votos da oposição, câmara rejeita moção de repúdio a comediante após esvaziamento estratégico de vereadores da base

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A Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú deliberou, na noite de terça-feira (22), sobre a Moção de Repúdio nº 155/2025, proposta pelo vereador Elton Garcia (PSD), direcionada ao comediante Afonso Padilha. A moção, que criticava declarações do humorista consideradas ofensivas às mulheres e à cidade, foi rejeitada após empate de votos e decisão contrária do presidente da sessão, vereador Vitor Forte (PL).​

A sessão foi marcada por ausências estratégicas. Dos 19 vereadores, apenas um, Eduardo Zanatta (PT), esteve ausente por completo. Contudo, no momento da votação, diversos parlamentares deixaram o plenário: o presidente Marcos Kurtz (PODEMOS) passou a presidência para Jade Martins (MDB), que também se retirou, transferindo a condução para Vitor Forte. Outros vereadores, como Aldemar Bola Pereira, Anderson Santos e Arlindo Cruz, também não registraram voto. “Vazaram para não votar na moção do Padilha”, comentou o vereador Guilherme Cardoso (PL) antes de iniciar o debate.

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Durante o debate, o plenário ouviu diferentes perspectivas. Apenas a vereadora Ciça Müller (PDT), entre os que votaram favoravelmente, utilizou a tribuna para defender publicamente a moção. Em contrapartida, todos os vereadores da oposição que permaneceram até o final se manifestaram, criticando a medida como um desvio do papel institucional da Câmara e um risco à liberdade de expressão, mesmo não concordando com o conteúdo das piadas.

A votação resultou em empate de 6 a favor e 6 contra. Coube ao presidente da sessão, Vitor Forte, o voto de minerva, que decidiu pela rejeição da moção.

VOTOS MOCAO REPUDIO

O que disseram os vereadores

Marcelo Achutti (MDB) questiona pertinência da moção e defende separação entre esfera pública e privada

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“Quem se sentiu ofendido que entre diretamente com uma ação direta.”

Primeiro a se manifestar sobre a moção de repúdio ao comediante Afonso Padilha, o vereador Marcelo Achutti (MDB) demonstrou desconforto com o fato de a Câmara estar debatendo um conteúdo relacionado a um evento privado. Para ele, o show de stand-up foi realizado em local fechado, com cobrança de ingresso, e portanto fora da alçada institucional do Legislativo.

Achutti reconheceu que o humorista pode ter sido infeliz ao fazer piadas sobre as mulheres de Balneário Camboriú, mas reforçou que não cabe à Câmara intervir ou emitir juízo sobre manifestações ocorridas fora do espaço público. O vereador ainda ironizou: se as piadas tivessem sido feitas com verba pública, aí sim caberia uma moção.

Ele considerou que a moção representava uma espécie de intervenção indevida no âmbito privado e alertou para o risco de a Câmara abrir um precedente que poderia torná-la palco frequente desse tipo de discussão. Para ele, o caminho adequado para quem se sentiu ofendido é o Judiciário.

Apesar da crítica à moção, Achutti elogiou a postura da prefeita Juliana Pavan, que fez uma declaração pública em defesa da cidade, ressaltando que ela tem o direito de se manifestar. No entanto, reiterou que o Legislativo não deveria utilizar um instrumento institucional para se posicionar sobre um evento artístico de caráter privado.

Ciça Müller (PDT) defende moção como resposta simbólica ao machismo e à exposição negativa da cidade

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“Machismo não é piada, viu vereador Achutti. Machismo não é piada.”

Única entre os parlamentares que votaram favoravelmente à moção de repúdio e que decidiu se manifestar em plenário, a vereadora Ciça Müller (PDT) justificou seu voto com firmeza e criticou abertamente o conteúdo do show do comediante Afonso Padilha. Para ela, o que foi dito no palco ultrapassou os limites do humor e se configurou como uma forma de machismo disfarçado de piada.

Ciça exibiu um trecho do espetáculo para os presentes e afirmou que não se tratava de censura, mas de uma necessária reflexão institucional sobre a imagem que Balneário Camboriú tem permitido que se propague. Segundo ela, ao se calar diante desse tipo de manifestação, o poder público estaria conivente com a banalização da figura feminina e da própria cidade.

A parlamentar também reconheceu que a repercussão da moção tem dado mais visibilidade ao comediante, mas ponderou que o gesto simbólico ainda assim era necessário. Para ela, o repúdio da Câmara tem a função de convidar o humorista a refletir sobre os próprios limites e rever seu conteúdo.

Durante sua fala, fez questão de tranquilizar as mulheres da cidade, reafirmando que elas não devem se sentir representadas por esse tipo de humor. Em tom direto, disse que o que Padilha fez não é humor, mas uma tentativa de ganhar projeção pública às custas da imagem alheia.

Guilherme Cardoso (PL) afirma ter repensado posicionamento e critica uso da moção para casos privados

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“A Câmara de Vereadores tem feito moções muito inteligentes — e outras que a gente pode debater no campo das ideias. Não ao ponto da gente fazer uma moção de repúdio.

O vereador Guilherme Cardoso (PL) fez uma fala reflexiva e, em certo ponto, autocrítica. Revelou que, no calor da repercussão nas redes sociais, foi um dos primeiros a se posicionar contra as falas do comediante Afonso Padilha, publicando inclusive um vídeo de repúdio. No entanto, segundo ele, ao debater com seguidores e refletir sobre o episódio, passou a reconsiderar sua posição quanto ao uso de um instrumento institucional para criticar um evento privado.

Cardoso questionou a coerência da Câmara ao se manifestar sobre um caso ocorrido num show fechado e com ingressos pagos, enquanto não houve reação institucional semelhante em episódios mais graves, como a agressão cometida por um agente público contra uma mulher, mencionada por ele como exemplo de silêncio seletivo.

Sem defender diretamente o conteúdo do humorista, o vereador propôs um olhar mais amplo sobre a fama que a cidade tem projetado nacionalmente, reconhecendo que parte do conteúdo satirizado encontra algum eco na realidade. Para ele, a crítica mais efetiva deveria ser direcionada à construção dessa imagem permissiva e sexualizada, e não apenas ao mensageiro.

Cardoso terminou sua fala dizendo que respeita a proposta apresentada pelo colega, mas entende que a moção não é o instrumento adequado. Sugeriu que a Câmara e o Executivo invistam numa campanha educativa que reforce os verdadeiros valores da cidade, em vez de fortalecer a polêmica.

Mazinho Miranda (PRD) diz que moção é perda de tempo diante dos reais problemas da cidade

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“Nós paramos hoje na Câmara de Vereadores para discutir uma moção de repúdio de um comediante.”

O vereador Mazinho Miranda (PRD) manifestou respeito à iniciativa do colega Elton Garcia ao propor a moção de repúdio, mas declarou voto contrário e aproveitou a tribuna para fazer uma crítica direta à priorização de pautas simbólicas em detrimento dos problemas concretos de Balneário Camboriú. Para ele, a sessão perdeu o foco ao discutir um tema que, embora polêmico, está longe de ser prioritário para os cidadãos da cidade.

Mazinho citou nominalmente problemas como a escuridão da Praia Central, buracos deixados pela Emasa e falhas estruturais na educação e no transporte público, sugerindo que esses sim deveriam ocupar o tempo e a atenção dos vereadores. Segundo ele, o episódio envolvendo o comediante, embora tenha gerado indignação em parte da população, não justifica a mobilização institucional da Câmara.

Além disso, Mazinho chamou atenção para o próprio comportamento dos colegas: apontou o esvaziamento do plenário como um sinal de que muitos vereadores não consideraram a moção relevante o suficiente para permanecerem presentes durante a votação. Na visão dele, isso evidencia que o tema não conseguiu sequer unir a base do governo ou a oposição em torno de um posicionamento claro.

Ele afirmou que não entraria no mérito sobre se o comediante estava certo ou errado, mas reforçou que espera ver o Legislativo enfrentando os “problemas maiores da cidade”, e não debatendo declarações de um artista que apenas cumpria seu trabalho em um show privado.

Jair Renan Bolsonaro (PL) invoca a Constituição e acusa politicamente correto de “mimimi”

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“O politicamente correto tá chato demais em todo o Brasil. Tudo é motivo de militância, qualquer coisa é motivo de mimimi.”

O vereador Jair Renan Bolsonaro (PL) adotou um tom direto e combativo ao justificar seu voto contrário à moção de repúdio contra o comediante Afonso Padilha. Para ele, o episódio se trata claramente de uma manifestação artística protegida pela liberdade de expressão, e qualquer tentativa de censura institucional deve ser rechaçada.

Em sua fala, Jair citou o artigo 5º, inciso IX da Constituição Federal, que garante a liberdade da atividade intelectual, artística e cultural. Segundo o vereador, o comediante estava apenas exercendo esse direito durante um show privado, e quem se sentiu ofendido deveria procurar a Justiça, não acionar a Câmara de Vereadores.

O vereador também criticou o “politicamente correto”, que classificou como exagerado e seletivo. De forma provocativa, relembrou a ocasião em que a prefeita Juliana Pavan surfou na repercussão da música “Descer para BC” — cujas letras sexualizam as mulheres — e, segundo ele, não houve moção de repúdio ou indignação por parte da base governista ou da própria prefeita.

Ao encerrar, afirmou que a Câmara deveria priorizar temas realmente urgentes da cidade, como iluminação pública, buracos nas ruas e os problemas da Emasa, em vez de gastar tempo debatendo piadas de palco.

Naifer Neri (Novo) diz que Câmara não pode virar “STF paralelo” e defende mercado como melhor forma de repúdio

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“O melhor repúdio que existe é o mercado. Se aquele consumidor não gostou daquele produto, não adquire.”

Último a se manifestar antes da votação, o vereador Naifer Neri (Novo) também se posicionou de forma contrária à moção. Com um discurso pautado na defesa da liberdade de expressão, ele argumentou que o melhor repúdio possível ao conteúdo de um comediante é dado pelo próprio público — através do mercado.

Para Naifer, as pessoas que se sentiram incomodadas com o conteúdo do show têm a liberdade de não consumir esse tipo de humor, e o artista arcará com as consequências da rejeição. Ele citou como exemplo uma banda de rock que, após declarações polêmicas sobre um político, passou a ter seus shows cancelados por decisão do próprio mercado. Segundo o vereador, essa reação é mais eficiente do que qualquer moção institucional.

Naifer também ressaltou que não conhecia o trabalho de Afonso Padilha até o episódio ganhar repercussão e ironizou: agora que conhece, sabe que não levaria sua filha para assistir a um show dele. Reforçou que não concorda com as declarações do comediante, mas as tolera, e que esse é o princípio fundamental da liberdade de expressão.

Ao final, fez um alerta mais duro: disse que, ao aprovar moções como essa, a Câmara corre o risco de assumir um papel de tribunal moral, se aproximando de um “STF paralelo”.

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