A temporada da tainha, que vai de 1º de maio a 31 de julho, voltou a acirrar os ânimos entre pescadores artesanais e empresários do setor náutico em Balneário Camboriú. Durante esse período, uma lei municipal proíbe a circulação e permanência de embarcações motorizadas na orla da Praia Central, com aplicação de multa para quem descumprir. A medida tem como objetivo preservar a pesca tradicional, facilitando a captura dos cardumes que se aproximam da costa.
No entanto, essa restrição vem sendo duramente criticada por profissionais do turismo náutico. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra a abordagem de um piloto de moto aquática por agentes de fiscalização. Indignado, o homem reclama da proibição e argumenta que o trabalho com embarcações é seu sustento:
“A gente ganha o nosso pão aqui. Não é porque tem jet ski e lancha que é rico. A gente é trabalhador, honesto”, desabafa.
Durante o diálogo, o piloto afirma que sempre respeitou os pescadores e que nunca houve conflito nos anos anteriores. “Todo ano a gente tava aqui, nunca avacalhamos vocês. Sempre respeitamos”, alega, ressaltando que agora pretende reivindicar o direito de trabalhar mesmo durante a temporada da tainha.
Em outro trecho do vídeo, ele aponta o funcionamento contínuo de embarcações turísticas como o Barco Pirata, questionando o motivo de algumas embarcações seguirem operando enquanto outras são impedidas:
“Por que o barco pirata pode e a gente não pode? Que lei é essa? Isso tá errado.”
O piloto também faz um apelo à população para apoiar o movimento, anunciando uma mobilização para quarta-feira com o objetivo de pressionar as autoridades a reverem a legislação:
“A gente quer colocar todas as lanchas aqui. Vamos mostrar que somos honestos e só queremos trabalhar.”
A legislação municipal que estabelece a restrição foi criada justamente para garantir condições adequadas à pesca artesanal da tainha, atividade tradicional e reconhecida como patrimônio imaterial em Santa Catarina. O conflito entre os setores reflete o desafio de conciliar diferentes interesses econômicos que ocupam o mesmo espaço no litoral catarinense.

Pescador defende diálogo e respeito mútuo: “Dá pra todo mundo tirar sustento do mar”
Diante do conflito entre os pescadores e o stor náutico, o morador Ely Pacheco compartilhou em suas redes sociais um contraponto registrado durante visita a um dos ranchos de pesca na Barra Sul de Balneário Camboriú.
No vídeo, Ely conversa com Ronan, pescador tradicional do Rancho da Selma, que destaca a importância de manter viva a cultura da pesca da tainha. Segundo ele, a prática vai além da subsistência — trata-se de um patrimônio que representa o litoral catarinense:
“Nós hoje aqui mantendo a cultura na nossa cidade, Balneário Camboriú, que é uma vitrine não só pro Brasil, mas também pro mundo. Essa cultura deve ser preservada.”
Ronan ressalta que os pescadores não são contra o turismo náutico e reconhecem que muitos também dependem economicamente da atividade com lanchas e jet skis. No entanto, ele reforça que é necessário respeitar os limites legais estabelecidos para proteger o trajeto dos cardumes, que passam rente à costa:
“Essa discussão que vem ocorrendo hoje é só por respeito. Tem a lei que determina uma milha náutica como limite, porque é ali que a tainha passa.”
O pescador sugere que operadores de turismo náutico orientem seus clientes sobre a legislação vigente, ancorem suas embarcações fora do limite permitido e compartilhem com os visitantes um pouco da história da pesca artesanal:
“Avise os seus clientes que vão até onde é permitido, ancorem um pouco mais afastado, e falem um pouco sobre a nossa cultura.”
Ele ainda destaca que o barulho dos motores realmente afugenta os peixes, o que compromete diretamente a pesca, e que os pescadores têm respaldo legal para reivindicar esse espaço específico durante a temporada.
A fala de Ronan acrescenta uma camada importante ao debate, reforçando que o problema não é a presença de embarcações ou turistas, mas sim o descumprimento das regras durante um período específico em que a atividade pesqueira precisa de tranquilidade e respeito para acontecer. Segundo ele, o caminho não é o confronto, mas o diálogo:
“Agradeço aos que estão trazendo esse diálogo. Não é pra entrar num acordo forçado, mas pra que todos possam tirar bom proveito do mar.”
Claro! Aqui está a finalização da matéria com a informação fornecida, mantendo o tom técnico, informativo e coerente com o restante do texto:
Representantes do ramo náutico prometem mobilização na Secretaria do Meio Ambiente
Em meio ao impasse entre pescadores artesanais e trabalhadores do setor náutico, a discussão ganha um novo capítulo. Thayná Francielly, que atua no ramo náutico em Balneário Camboriú, anunciou uma mobilização para esta quarta-feira (14), às 13h30, na Secretaria do Meio Ambiente do município.
Segundo ela, o objetivo do encontro é buscar uma solução equilibrada que permita o exercício da atividade econômica durante a temporada da tainha, respeitando os limites impostos pela legislação, mas garantindo também o direito ao trabalho:
“Amanhã vamos às 13h30 na Secretaria do Meio Ambiente em um multidão para lutar por um espaço para que possamos trabalhar. Somos a favor da pesca da tainha, mas não podemos ficar três meses sem trabalhar. Só estamos pedindo um espaço. Vamos vários representantes de embarcações.”
A mobilização reforça que, apesar das divergências, há disposição para o diálogo por parte dos profissionais do turismo náutico, que buscam uma alternativa que permita a convivência pacífica e produtiva entre as diferentes atividades que dependem do mar para sobreviver.