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A faca e o queijo para o sensacionalismo irresponsável

"Sem saber a dimensão da operação que estava para acontecer e a repercussão que teria, fomos os primeiros da imprensa a chegar no local"

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Fabiana Jordan / Especial / Click Camboriú

Nesta última quarta-feira, 03.abr.2019, nós do Click Camboriú tínhamos a faca e o queijo na mão para armar um grande sensacionalismo e fazer a página crescer horrores com transmissão ao vivo do advogado, autor do feminicídio, sentado no parapeito da sacada, mesmo com o iminente risco dele se jogar. Seriam imagens bem irresponsáveis de se transmitir, caso ocorresse, mas a audiência seria espetacular, e saciaria o desejo das pessoas por ver sangue.

Optamos por outra linha.

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As transmissões que fizemos foram todas informativas. Reportamos o feminicídio e, no decorrer da situação, ao invés de dar ênfase em tentativa de suicídio, preferimos dizer que o que estava ocorrendo era uma negociação de rendição.

Sem saber a dimensão da operação que estava para acontecer e a repercussão que teria, fomos os primeiros da imprensa a chegar no local. Tínhamos informações em primeira mão, que nem mesmo muitos dos policiais envolvidos na operação tinham conhecimento. Estávamos mantendo contato visual com a sacada, em um lugar “privilegiado” (uma construção empoeirada), dentro do perímetro bloqueado para passagens. Porém, percebendo que o causador da situação estava com o celular na mão e que ele poderia ver as nossas publicações, interferindo assim na estratégia da operação, decidimos não soltá-las. Após a meia noite, quando verificamos que parte da imprensa já tinha noticiado a suspeita do assassinato, foi que resolvemos informar melhor nosso público, já que as notícias tinham se alastrado feito pólvora. Durante a live, pediam o tempo todo para mostrar a sacada, mas temíamos muito em acabar, sem querer, transmitindo uma possível queda, pudor esse que outros veículos não tiveram.

Amanhecemos no local e soltamos as novas informações que a polícia divulgou. A rua foi sendo tomada pelos curiosos, e as horas foram passando. Muitos deixaram de cumprir seus compromissos do dia para assistir ao tal “espetáculo”. Outros levaram crianças e adolescentes para assistir junto. Praticamente todos filmavam com seus celulares, na expectativa de registrar o momento crucial. Quanto mais pessoas chegavam, mais a torcida pelo suicídio aumentava. E isso foi nos deixando mal.

Após 20 horas de ocorrência; após ficarmos sem dormir, sem comer e nem beber água; após a Polícia Militar expulsar os profissionais da imprensa e não permitir que acompanhássemos o resgate, cansamos de ficar no meio daquela multidão e fomos embora.

Talvez não tenha sido a melhor cobertura. Talvez não tenha sido a mais completa e em tempo real. Mas foi uma das mais ágeis e responsáveis, e isso já nos deixa satisfeito, ainda que não corresponda às expectativas de todos.

Pedro Guilherme da Rosa, jornalista.

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