ALEX FERRER – Camboriú Play #041

O jornalista, relações públicas e agitador social, Alex Ferrer, participou do 41º episódio do Camboriú Play

Alex Ferrer é branco e foi adotado por uma família negra logo após seu nascimento quando foi abandonado por sua mãe biológica em um hospital de Taguatinga, cidade satélite de Brasília.

Conheça a história de Ferrer: 

“Meu pai era branco. Minha mãe era negra. Minhas quatro irmãs são mulatas, e meu único irmão também. Na infância, eu tinha cabelo claro e era muito branco. Hoje, tenho cabelos castanhos. Fui adotado ainda no hospital em que nasci, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. Fui abandonado lá por minha mãe biológica. Meus pais adotivos, José Joaquim de Souza e Adalgiza Ferreira, eram vizinhos da enfermeira que cuidou de mim. Não queriam aceitar um menino branco. Quando me viram, mudaram de ideia. Não passei por orfanato. Eles simplesmente foram me buscar. Seis dias depois, me registraram como filho. 

Os vários tipos de preconceito surgiam misturados no dia a dia. Era comum acharem que minha mãe era minha babá. Minha mãe chegou a ouvir que ela escolhera um branquinho porque não gostava da própria raça. Não tinha consciência disso, mas, quando era pequeno, me sentia inadequado, como se tivesse feito algo errado. Na escola, logo descobri que tinha outro defeito: era adotado. Hoje soa estranho. Na escola, até professores faziam comentários de mau gosto por eu ser adotado.

Entendi que era gay quando criança. Passei a pedir a Deus que me transformasse em heterossexual. Prometi que iria à igreja todos os finais de semana se me tornasse “normal”. Quando virei adolescente, o preconceito contra minha sexualidade aumentou. Naquela época, ser gay em Taguatinga era o mesmo que ter uma praga contagiosa. Vizinhos procuraram meus irmãos para me denunciar, como se isso fosse um crime. Meus pais já tinham morrido nessa época. Decidi me abrir. Fiquei surpreso com a compreensão de todos. Fui acolhido e senti, pela primeira vez, paz por ser quem eu era.

Meus irmãos e eu sempre batalhamos muito. Comecei a trabalhar muito cedo. Antes dos 15 anos, vendia os produtos de catálogo da marca Tupperwear, tosava cachorros e distribuía panfletos. Sermos esforçados e responsáveis não impedia que fôssemos maltratados por sermos pobres.

O amor e a união entre meus irmãos  e mim foram importantes para que todos conseguíssemos tocar a vida e para nos tornarmos pessoas produtivas e saudáveis. Nossa união chegava a causar inveja na vizinhança. A segurança que essa relação me deu foi fundamental para que eu assumisse quem era em todos os aspectos. Adotei a estratégia de nunca esconder minha realidade. Também jamais tive vergonha em pedir e aceitar ajuda. Quando era adolescente, acompanhei uma amiga a uma sessão de terapia. Contei minha história, e uma psicóloga se ofereceu para me atender de graça.  Aos 17 anos, fui com outra amiga, que fora eleita Miss Taguatinga, a uma entrevista num jornal de bairro. Fiquei conversando com o diretor do jornal sobre as celebridades da cidade. Ele me convidou a ter uma coluna social sobre os eventos locais.

Por causa dessa coluna, fui entrevistado na televisão por Amaury Jr. Ele me chamou de “mais novo colunista social do Brasil”. Tinha 17 anos. Alguns anos depois, fui ao programa do Jô Soares. Ele me apresentou como o colunista dos emergentes. Estudei até o 2o ano da faculdade de jornalismo. Larguei para morar na Espanha. Quando voltei ao Brasil, em 2005, fui para Santa Catarina apresentar um programa de coluna social de uma produtora local, transmitido pela TV Record. Depois fui para a Suíça. Hoje sou dono de uma agência de assessoria de imprensa e relações públicas em Balneário Camboriú. Organizo eventos, estratégias de marketing e dou assessoria para personalidades e empresas. Tenho minha casa e um padrão de vida confortável. Viajo muito, compro o que quero. Meus irmãos estão muito bem. Minhas quatro irmãs são funcionárias públicas em Brasília. Uma delas tem um cargo alto no governo. Meu irmão é policial, como meu pai foi.”