A Prefeitura de Balneário Camboriú autorizou o retorno do guarda municipal Feliepe Platt ao projeto de defesa pessoal para mulheres, agora reformulado como “Luta por Elas”. A decisão foi anunciada após uma reunião realizada na sexta-feira (7), entre Platt, alunas do projeto e a prefeita Juliana Pavan. No entanto, mesmo permitindo seu retorno, a administração municipal mantém as acusações de improbidade administrativa contra o instrutor, relacionadas ao pagamento de horas extras.
Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança, Platt voltará como instrutor voluntário, sob a supervisão do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Guardas (CEFAD), que determinará sua carga horária e demais condições de atuação. O assessor de comunicação da Secretaria de Segurança, Mateus Silva, esclareceu que o retorno ocorre dentro do novo modelo institucional adotado pela Guarda Municipal.
“O instrutor Felipe Platt se inscreveu como voluntário no programa ‘Luta por Elas’, que agora é um projeto oficial da Guarda Municipal. Ele será regido pelo CEFAD, que definirá os dias e horários das aulas. Ou seja, ele retorna, mas não com o projeto dele, e sim como um dos instrutores da nova estrutura”, explicou.
A decisão de permitir a volta de Platt gerou questionamentos, já que ele foi publicamente acusado pela gestão municipal de receber horas extras de maneira indevida. Ao ser indagada sobre a aparente contradição, a prefeitura alegou que as investigações continuam, mas que sua atuação como voluntário não interfere no andamento do processo.
“A denúncia de improbidade administrativa segue em apuração. No entanto, enquanto isso, ele pode atuar como voluntário, já que possui a qualificação necessária para a função”, afirmou Mateus Silva.
Um ponto que segue sem resposta é se outros guardas municipais que darão aulas no projeto sob a gestão do CEFAD também atuarão sem remuneração. A assessoria da Secretaria de Segurança não se manifestou sobre o tema.
Tensão em reunião com a gestão municipal
Antes de oficializar a reintegração de Platt ao projeto, a administração municipal realizou uma reunião com alunas do programa, no dia 4 de fevereiro. O encontro contou com a presença da prefeita Juliana Pavan, do vice-prefeito Nilson Probst e do secretário de Segurança, Evaldo Hoffmann, e foi marcado por momentos de tensão.
Segundo relatos de participantes, Nilson Probst adotou um tom ríspido e chegou a sair da sala após causar desconforto entre as alunas. Além disso, a gestão teria orientado o grupo a evitar manifestações públicas sobre o tema, argumentando que a repercussão estava gerando confusão na opinião pública.
Outro ponto polêmico da reunião foi a fala do secretário de Segurança, Evaldo Hoffmann, que negou responsabilidade por uma nota publicada em suas redes sociais com acusações contra Felipe Platt. Ele afirmou que não administra pessoalmente seus perfis e que o conteúdo foi postado por outra pessoa, eximindo-se da responsabilidade sobre as declarações.
A origem do impasse
O projeto de defesa pessoal para mulheres foi criado por Felipe Platt em 2019 e, ao longo dos anos, consolidou-se como uma referência no município. Desde 2021, passou a integrar a estrutura da Guarda Municipal e, em 2023, foi transferido para a academia do novo complexo da Secretaria de Segurança Pública. Até a reformulação, atendia cerca de 400 alunas ativamente e já havia beneficiado aproximadamente mil mulheres desde sua criação.
Com a posse da nova gestão municipal, a prefeitura anunciou uma reestruturação do programa, alterando seu nome para “Luta por Elas” e afastando Platt sem consultar as participantes. A medida gerou forte descontentamento, levando as alunas a se mobilizarem publicamente contra a decisão. A mobilização incluiu um abaixo-assinado, protestos na Câmara de Vereadores e críticas à administração municipal por falta de diálogo.
Em resposta às críticas, a prefeitura divulgou um vídeo negando que o programa seria encerrado, mas manteve o afastamento de Platt, justificando que ele estaria em desvio de função. Poucos dias depois, o secretário de Segurança publicou uma nota alegando que Platt havia recebido horas extras de forma irregular, agravando ainda mais a crise.
A situação ganhou um novo contorno quando veio à tona que a própria prefeita Juliana Pavan e o vice-prefeito Nilson Probst haviam, no passado, homenageado Platt pelo trabalho realizado no projeto. Outro ponto de controvérsia foi a falta de transparência da prefeitura em relação à qualificação dos novos instrutores, além da ausência de informações sobre a remuneração dos profissionais designados para substituí-lo.
Agora, com a autorização para que Platt retorne como voluntário, a gestão municipal busca encerrar a crise política gerada pelo caso. No entanto, alunas do projeto ainda questionam a manutenção das acusações contra o instrutor e a tentativa da prefeitura de restringir as manifestações públicas sobre o tema.
A retomada das aulas não significa o fim do debate, e o caso continua levantando dúvidas sobre a transparência da administração municipal e os reais motivos por trás da reformulação do projeto.