Enfrentando dificuldades no recebimento de seus salários, professores e assistentes admitidos em caráter temporário (ACTs) da rede municipal de ensino de Camboriú foram até a sede da prefeitura, na tarde desta segunda-feira, 31 de março, cobrar explicações diretamente do prefeito Leonel Pavan (PSD). A manifestação, que teve início de forma pacífica, ganhou contornos de tensão após a chegada do chefe do Executivo, que foi abordado por professoras em um tom firme, pedindo responsabilidade sobre os atrasos e omissões da gestão.
Vídeos gravados pelas próprias servidoras mostram momentos da conversa entre as educadoras e o prefeito. Em uma das gravações, Pavan aparece tentando se esquivar da responsabilidade, atribuindo a culpa dos atrasos ao setor de Recursos Humanos da prefeitura:
— Quem errou não foi o prefeito, quem errou foi o RH — afirma Pavan, em uma escada interna do prédio da administração.
— Quem foi que contratou ele? — questiona, em tom de indignação, uma das professoras.
— Eles são efetivos — responde o prefeito.
— Todos? Todos são efetivos? — insiste a servidora.
Diante da pressão, o prefeito parece sem saída: “Que que eu faço agora?”
A professora então retruca, elevando o tom:
— Exonera! Resolve o problema! Se eu contrato um funcionário que está dando problema, eu resolvo. Como gestor, a gente resolve. Você é o gestor, resolva! É isso que um gestor faz. Não vem acusar o outro. Lá na creche a gente cuida das crianças. Você cuida da gestão da cidade de Camboriú. Você não consegue cuidar? Porque mês passado a gente estava aqui, esse mês de novo, a mesma porcaria. Tu acha que eu não tenho coisa pra fazer? Tu acha que minhas contas não estão atrasadas pra eu pagar?
Prefeito tentou interromper filmagem
Em outro trecho gravado momentos antes por uma servidora, Pavan aparece visivelmente irritado com o fato de estar sendo filmado. Ele tenta impedir o registro, mas é confrontado:
— Você não precisa gravar não — diz Pavan.
— Pode gravar? — pergunta a servidora que segura o celular.
— Pode, é público. Pode sim — responde outra professora, reforçando o direito de filmar o gestor em um espaço público.
— Tá bom. Tá pronto? Tá perfeito — ironiza o prefeito, encerrando a conversa de forma abrupta.
Antes de deixar o local, uma das servidoras rebate com ironia:
— Vota nele! Ano que vem… Não, daqui a três anos… Vota no Pavan! O melhor! Tu é figura pública.
O tom de indignação foi compartilhado entre diversas trabalhadoras presentes, que se mostraram frustradas com a recorrência dos problemas salariais e a falta de respostas efetivas por parte do poder público municipal.
Nota da Prefeitura
Após a repercussão do episódio, a Prefeitura de Camboriú divulgou uma nota oficial alegando que “inconsistências nos processos de contratação e pagamento dos ACTs” foram identificadas nos meses de fevereiro e março. Segundo a administração, tais inconsistências ocorreram no “intuito de garantir o início do ano letivo sem a falta de profissionais nas salas de aula”, ainda que de forma operacionalmente falha.
O comunicado ainda afirma que todos os professores foram remunerados, mas reconhece que houve “desconformidades” que estão sendo apuradas. A gestão também afirma estar comprometida com a educação e com os direitos dos profissionais da área, e orienta que qualquer servidor prejudicado entre em contato com o Departamento de Recursos Humanos para buscar esclarecimentos.
Atos recorrentes e descrédito entre os profissionais
Esta não foi a primeira vez que os profissionais da educação de Camboriú buscaram respostas presencialmente. Segundo relataram durante a mobilização, os problemas vêm se repetindo nos últimos meses, gerando atrasos no pagamento de contas, compromissos e, principalmente, desmotivação em meio a um cenário já fragilizado.